Autistas no mercado de trabalho: como dar o primeiro passo?
A inserção de autistas no mercado de trabalho nem sempre é fácil, muitas vezes por falta de informação e conhecimento das empresas. Acompanho essa dificuldade diariamente conversando com pais e profissionais de diversas áreas.
A Lei nº 12.764, de 23 de setembro de 2012, permitiu que pessoas com autismo tivessem mais direitos e oportunidades – pelo menos na teoria.
Ao instituir a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, elas passaram a ser consideradas portadoras de deficiência e entraram para a Lei de Cotas.
Antes de mais nada, gostaria de dizer que, apesar de fazer parte da lei de cotas, isso não significa que pessoas com autismo não tenham capacidade intelectual. O que a maioria encontra é dificuldade na comunicação e interação social.
Apesar disso, o mercado de trabalho ainda não está totalmente aberto à contratação de jovens e adultos com TEA.
Para mudar esse cenário e aumentar o acesso de autistas no mercado de trabalho brasileiro, existem empresas especializadas que ajudam nesse processo.
Uma delas é a Ser Especial, que atende pessoas com deficiência física, visual, auditiva, intelectual, psicossocial (transtornos mentais), com autismo e reabilitados do INSS, a partir dos 14 anos de idade.
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Difundindo o valor dos autistas no mercado de trabalho
O desconhecimento das empresas e de muitas famílias a respeito da possibilidade de oportunidades de emprego por meio de cotas, torna difícil a entrada de pessoas autistas no mercado de trabalho.
Emília Auyagui, coordenadora técnica da Ser Especial, aponta outras barreiras. “Muitas empresas não conhecem as habilidades e potencialidades da pessoa com TEA. Embora sejam consideradas pessoas com deficiência (para efeito da lei), muitas têm o intelecto preservado e podem ter inteligência acima da média.”
Segundo a coordenadora, no geral, as empresas dão preferência à inclusão de pessoas com deficiência física e auditiva leve e visual parcial, justamente por haver muita falta de informação sobre as capacidades da pessoa com autismo.
As pessoas com caraterísticas de autismo costumam apresentar:
– Boa memória
– Atenção aos detalhes
– Facilidade de encontrar erros
– Perseverança para realizar atividades repetitivas
– Interesse específico por algum tema, tornando-se um “especialista”
“Diante de tantas habilidades positivas para o ambiente corporativo, é importante
conscientizar as empresas e a sociedade com mais ações de esclarecimento e conscientização sobre o tema. São necessárias também iniciativas do poder público, tanto na fiscalização do cumprimento da lei como no incentivo a ações para inclusão”, aponta Emília Auyagui.
Como funciona a contratação de pessoas com autismo
Na Ser Especial, a triagem dos candidatos é realizada por uma equipe multidisciplinar especializada, composta por psicólogo, pedagogo, terapeuta ocupacional e médico de trabalho.
O grupo de especialistas se encarrega de identificar o perfil profissional, o grau da deficiência e limitações e as adaptações necessárias de acessibilidade (comunicação, locomoção e atitudinais) para a inclusão no trabalho.
A coordenadora técnica da Ser Especial explica que, no caso das pessoas com autismo, em geral, há necessidade de acessibilidade atitudinal, isto é, compreender que o autista tem uma forma diferente de perceber e interagir com as pessoas.
“Isso se deve ao prejuízo nas habilidades de comunicação, interação social e comportamentos atípicos. Desse modo, é necessário criar estratégias para descoberta e aproveitamento de habilidades e potencialidades.”
Na empresa Ser Especial, a inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho pode se dar por três possibilidades:
– Modalidade competitiva: para pessoas com maior autonomia, com condições de exercer suas atividades laborais na empresa sem ou com poucos apoios especiais.
– Modalidade seletiva: para pessoas com deficiência severa ou grave, com menor autonomia, necessitando de procedimentos e apoios especiais para exercer suas atividades laborais, as quais ocorrem nas oficinas terapêuticas.
– Programa de aprendizagem: no caso de pessoa com deficiência, não há limite de idade e são pessoas em busca do primeiro emprego ou com pouca experiência.
Todas as pessoas contratadas por intermédio da Ser Especial trabalham quatro dias por semana na empresa e, no quinto dia, contam com aulas teóricas na Ser Especial.
“O diferencial da nossa empresa é o acompanhamento técnico e contínuo, mesmo após a contratação. Disponibilizamos serviços como hot line (linha direta por call ou email), visita técnica, palestra de sensibilização, análise ocupacional, grupo operativo, orientação à família e acompanhamento pós-desligamento”, explica Emília.
Na Ser Especial as pessoas têm acesso a cursos gratuitos de capacitação profissional nas áreas de Assistente Administrativo, Promotor de Vendas, Repositor de Mercadoria, Auxiliar de Produção e Informática Básica.
Em todos eles também são trabalhados temas como postura profissional, etiqueta corporativa, respeito às regras, elaboração de currículo, dicas para entrevista e empreendedorismo.
“As pessoas com autismo podem ocupar qualquer vaga, de acordo com suas habilidades e potencialidades. A dificuldade na comunicação e interação muitas vezes faz com que eles nem passem na entrevista. Mas o importante é a empresa estar aberta e proporcionar oportunidade para a descoberta de talentos”, comenta a coordenadora técnica da Ser Especial.
A Ser Especial conta com três unidades: na Vila Congonhas (SP), Belenzinho (SP) e São Cristóvão (RJ), mas atua em 10 estados do Brasil: São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Bahia, Piauí, Ceará e Goiás.
Você conhece outras empresas que realizam a inserção de autistas no mercado de trabalho? Conta pra gente nos comentários!