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12/11/2020

Autismo e comunicação não verbal: o que fazer?

Comunicação não-verbal

A comunicação não verbal é uma questão que preocupa muitos pais de filhos com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Cada criança tem um jeito diferente de se comunicar. As que não falam ou se comunicam muito pouco, como é a situação que trataremos neste artigo, usam as palavras, mas não conseguem formar frases extensas ou manter um diálogo.

Nesse caso, podem utilizar outras maneiras de se fazer entender, de expressar seus sentimentos e desejos. Gestos, cartões, apontamentos e linguagem escrita são alguns exemplos de comunicação alternativa para essas crianças.

Mas como estimular a fala das pessoas com autismo? Como oferecer a elas uma melhor qualidade de vida e independência?

Para falar mais sobre este assunto, eu conversei com a fonoaudióloga Danielle Mialich Rodrigues (CRFa 2-13720), especialista em psicopedagogia.

Comunicação não verbal e os desafios da linguagem

Danielle comenta que o desenvolvimento da linguagem é uma construção que começa quando somos bebês. Geralmente, a partir dos seis meses de vida, começamos a balbuciar, que é o caminho para os sons e os significados das palavras até chegarmos na fala com funcionalidade.

“Quando estamos falando de TEA, é comum que haja um atraso ou uma supressão da fala, que é um componente da linguagem. Mas nós só podemos dizer a criança é uma autista de comunicação não verbal quando ela chega aos três, quatro anos, sem uma construção de linguagem ou de fala instalada.”

A partir daí, Danielle explica que é preciso haver um estímulo contínuo, seja para despertar esta fala, seja para encontrar outros caminhos para que essa criança consiga se expressar.

“A linguagem é um veículo social. Com ela é possível ter trocas, se socializar, ter os desejos atendidos e expressar sentimentos para o outro. Inclusive, a ausência ou o atraso de linguagem é uma das primeiras características que chamam a atenção dos pais e os leva à procura de um diagnóstico”, completa.

Ao mesmo tempo, lembra que não é apenas a fala que indica a presença de autismo numa criança, uma vez que existem casos de pessoas com TEA que se expressam muito bem. “A dificuldade pode estar em outros pontos, como na socialização ou na questão sensorial. O autismo possui muitas nuances e é preciso analisar caso a caso. O TEA é único para cada pessoa.”

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Comunicação não verbal e graus de autismo: qual a relação?

Danielle conta que o grau de autismo pode, sim, ter uma relação com o grau de autismo.

Em muitas crianças diagnosticadas com autismo leve, por exemplo, a linguagem é presente, mas há características que podem destoar, como uma entonação vocal ou a dificuldade de perceber a segunda intenção da fala. Isso acontece, porque a criança com TEA costuma ser literal demais.

A fonoaudióloga conta que crianças com autismo nomeado severo tendem a apresentar maior dificuldade com a fala, porque, para desenvolvê-la são necessários alguns pré-requisitos:

  • Intenção de se comunicar
  • Olho no olho
  • Boa mobilidade dos músculos da fala
  • Aspectos sensoriais regulados
  • Capacidade de imitação, que só se dá quando há o interesse da criança pelo outro

“Parte-se do princípio de que uma criança com autismo e comunicação não verbal precisa ter a fala estimulada como meta, mas há uma série de habilidades que precedem a entrada de um processo de linguagem”, esclarece.

Métodos alternativos para a comunicação não verbal

Conforme citado anteriormente, a criança pode vir a desenvolver a fala ou utilizar meios alternativos de linguagem, que podem ser:

PECS (Picture Exchange Communication System – Sistema de Comunicação por Troca de Imagem): é um sistema de comunicação alternativa que se baseia na troca de gravuras. Para isso são usadas figuras, pictogramas, fotos, imagens de revistas, entre outros recursos que ilustrem objetos e situações diversas. A criança aponta para a figura correspondente para indicar o que deseja naquele momento.

PODD (Pragmatic Organization Dynamic Display – Exibição Dinâmica de Organização Pragmática): método de comunicação alternativa composto por livros que utilizam linguagem visual e verbal. Cada página possui símbolos e palavras relacionadas, acompanhadas de verbos, substantivos e pronomes. Este processo facilita o entendimento de perguntas e instruções, ensinando à criança alguns jeitos de se expressar.

Danielle reforça que, para o uso de métodos alternativos – que são construídos de maneira personalizada –, os pré-requisitos precisam estar minimamente claros na cabeça da criança. Ela precisa entender que tanto a palavra quanto a imagem possuem uma função na hora de comunicar e ter um desejo atendido.

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Dependendo do método utilizado pelo profissional, a ecolalia também acaba sendo um caminho para desenvolver a fala. “A ecolalia é considerada uma fala sem função, mas pode ser utilizada para auxiliar o processo de linguagem, dando uma função para as palavras-alvo repetidas constantemente pela criança”, esclarece a fonoaudióloga.

O importante, conforme explica Danielle, é que o profissional identifique o melhor caminho para o despertar desta criança, que pode se dar pelo sensorial tátil, pela audição ou pela visão, por exemplo. “Não há uma receita de bolo, mas uma metodologia adotada conforme as respostas da criança aos estímulos oferecidos.”

Dentro do consultório, o profissional cria situações para despertar a intenção de falar, de olhar nos olhos, de trazer a atenção da criança para o rosto quando se fala em imitação. Ações de causa e consequência, atividades motoras e brincadeiras de faz de conta também são pré-requisitos para o desenvolvimento da linguagem.

“Eu posso jogar uma bola e dizer uma palavra ou fazer um som a cada lance, por exemplo, de forma a criar uma previsibilidade de fala de forma sistemática. Eu preciso chamar a atenção dessa criança de alguma maneira, entender que tipo de mecanismo a atrai, pois sem atenção não há desenvolvimento”, diz Danielle.

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O papel dos pais na vida da criança que apresenta autismo e comunicação não verbal

Uma vez que as metodologias para o despertar da fala não são usadas apenas nos consultórios e a criança com autismo passa pouco tempo em processos terapêuticos, Danielle reforça a importância da parceria do profissional com a família e outros grupos sociais.

Isso porque a criança vai levar o aprendizado da terapia para a escola, para a casa, para a vida como um todo para que ela consiga fazer uso da linguagem. E todo mundo que convive com ela precisa estar em sintonia, ou seja, entender como a metodologia funciona e replicar. “A repetição é muito importante para o aprendizado, e a criança só vai entender o quão importante e facilitador é o material se ela usá-lo no dia a dia, alerta.”

Quando os assuntos são autismo e comunicação não verbal, podemos dizer que uma das grandes preocupações dos pais é a de que a criança não consiga expressar suas dores, vontades e angústias. Essa inabilidade pode levá-la a ter surtos, a bater no outro e a se autoagredir, porque sente saudade de alguém, dor, sede, vontade de algo.

“Quando este desconforto físico ou emocional ou essa vontade foge do controle e a criança não consegue ter uma expressão para isso, a forma de regulação pode ser uma dessas ações”, explica. Se com a linguagem já é difícil às vezes entender a intenção do outro, imaginem quando esta linguagem não existe?”, reflete.

Na ansiedade de ver essa fala se desenvolver, é comum os pais completarem a fala da criança. Porém, esta atitude dificulta o processo de desenvolvimento da fala, podendo haver uma acomodação por parte da criança. “O mais indicado seria criar situações-problema de maneira controlada para que a criança encontre novas formas de se expressar e oferecer recursos que facilitem esta expressão”, orienta a fonoaudióloga.

Outra preocupação dos pais que Danielle aponta é a fase adulta de autistas que apresentam a comunicação não verbal. Os genitores sabem que não estarão ao lado de seus filhos para sempre e isso se torna aflitivo.

Por isso, a fonoaudióloga ratifica a importância de o adulto ter alguma situação de linguagem comunicativa estabelecida. Caso não use a fala, a linguagem alternativa se torna fundamental para que esta pessoa com autismo se comunique com qualquer pessoa.

“A linguagem dará mais independência, mais qualidade de vida a este adulto. Os pais conhecem os filhos, sabem que um meio sorriso ou piscadas seguidas indicam algo. Mas essa conexão é apenas entre eles e impede que outras pessoas conheçam este autista de comunicação não verbal. Ele precisa saber se comunicar fora de casa falando ou mostrando uma cartinha”, alerta.

E deixa uma mensagem para os pais: “Procurem um fonoaudiólogo especializado que possa abrir caminhos para que a fala ou a linguagem acontecer. Falar, seja por qualquer caminho, é libertador, é empoderador, traz um reconhecimento de ser, de existir, de sentir através da própria fala. Qualquer pessoa merece e qualquer pai/mãe deseja liberdade para que seus filhos tenham seus desejos atendidos.”

Muito interessante, não é? Gostou do artigo sobre autismo e comunicação não verbal? Caso haja algum assunto relacionado ao autismo que você tenha dúvidas, use o espaço dos comentários para deixar sua sugestão. E fique à vontade para compartilhar nossos materiais nas redes sociais!

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