Projeto Onda Azul oferece aulas de surf para pessoas com autismo
Quem diria que aulas de surf entrariam para a lista de esportes que indicamos às pessoas com autismo, não é verdade? Por ser professor de educação física, passo dia e noite tentando aproximar este público todo especial das mais diversas modalidades esportivas, principalmente das aquáticas.
E, nessas minhas andanças, descobri que tem muita gente disposta a levar crianças, jovens e adultos com autismo para se aventurar nas águas do mar!
Em especial, encontrei um projeto muito bonito chamado Onda Azul. Por meio de aulas de surf, profissionais especializados em pessoas com TEA e voluntários oferecem diversão e propõem uma nova forma de desenvolver habilidades que favoreçam a independência e facilitem a rotina de quem convive com o diagnóstico.
Como surgiram as aulas de surf do Onda Azul?
Conversei com a psicopedagoga Sandra Lamb, coordenadora do projeto em São Sebastião (SP), e com Kika Feier, presidente do Onda Azul, pedagoga, neuropsicopedagoga e mãe da Cibele Feier, jovem de 26 anos com TEA.
Sandra me conta que o Onda Azul teve início na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, onde recebia o nome de Surf Azul. A Kika leu uma reportagem na Revista Fluir sobre um surfista autista, o Clay Marzo, e daí pensaram em trazer o projeto para o litoral paulista, em 2007. Mas a prática mesmo só aconteceu em 2015, quando receberam o apoio da Associação de Surf em Florianópolis.
“Através do documentário sobre Clay Marzo conheci outro projeto, na Califórnia, o Surf Healling, de Izzy Pascowitz, um pai e surfista profissional que tem um filho autista e criou um acampamento de surf para ensinar pessoas com TEA e suas famílias a surfarem e terem um dia perfeito na praia”, comenta Kika.
O Onda Azul, diferente do Surf Azul, pode ser replicado em outras cidades do litoral brasileiro, mediante a obediência aos critérios propostos pelo projeto, que hoje está sob domínio da Associação Onda Azul, formada por Cláudia de Sá Barcellos Cesarino (nutricionista), Letícia Baldasso Moraes (profissional de Educação Física), Maria Aparecida Feier Goulart (neuropsicopedagoga), Sandra Lamb (neuropsicopedagoga) e Sara Monte Uchôa (psicóloga).
Para a organização e execução do projeto são necessários dois grupos com pelo menos um profissional responsável em cada: Equipe da Areia e Equipe do Mar. Ambas contam com a colaboração de voluntários, estagiários e profissionais das áreas de educação, esportes e saúde.
“O surf é um esporte para todos, por isso penso que todo autista pode conhecer e apreciar o prazer de deslizar nas ondas. Afinal de contas, para o surfista e autista Clay Marzo, ‘as ondas são brinquedos de Deus!’”, comenta Sandra.
VIDEO: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1900959443536633&id=1878746859091225&sfnsn=mo
Aulas de surf para pessoas com autismo: só benefícios!
Sandra explica que não há restrição de idade para participar do Projeto Onda Azul. Tanto é que já passaram por lá surfistas com menos de dois anos e com mais de 40.
Sobre os benefícios das aulas de surf para pessoas com autismo, Sandra conta que eles incluem o desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio, comunicação, interação social e aspectos sensoriais.
“Temos relatos de pais que indicam que o filho ficou mais calmo, que aspectos sensoriais, como a necessidade de morder e apertar diminuiu, que a interação com os voluntários, família e demais pessoas de convivência melhoraram”, comemora.
A neuropsicopedagoga também aponta sensações de superação de medos e de felicidade como outros importantes benefícios das aulas de surf. “Os sorrisos delas dizem tudo. Já existem alguns trabalhos científicos e pesquisas sobre isso. E o que percebemos é que não é possível explicar muito o que os alunos sentem e vivem com a surf terapia. É evidente, sabemos que tem alteração neuroquímica, mas não temos tanto escopo para explicar quanto temos para apenas viver”, declara.
Kika acrescenta ressaltando que o surf permite trabalhar a frustração, quando a onda não leva a pessoa ou derruba, e a persistência, para que o objetivo proposto se cumpra.
“Temos ainda a questão sensorial. Já tivemos relatos de pessoas que antes não iam à praia, porque não gostavam de pisar na areia. Hoje não faltam a uma aula de surf”, comenta.
As aulas de surf também aproximam pessoas com autismo e suas famílias do ambiente litorâneo, levando a uma maior integração com a comunidade, permite que o aluno com TEA desfrute do contato com a natureza de forma segura e assistida, trabalha os aspectos sensoriais utilizando o ambiente da praia e difunde noções de educação ambiental para os autistas, famílias e comunidade em geral.
“O Onda Azul é um projeto que une o espírito do voluntariado com o das neurociências. Já conseguimos realizar dois seminários e reunimos diversos pesquisadores e profissionais que compartilharam conosco o poder de uma boa aula de surfe”, diz Kika.
“Atualmente, em países de primeiro mundo, o surf como ferramenta de terapia para diversas enfermidades e doenças já é uma realidade. E há uma gama de pesquisas de cunho científico comprovando o poder deste esporte com este fim”, completa.
Sandra comenta: “Os profissionais, estagiários e voluntários envolvidos nas aulas de surf do Projeto Onda Azul também são enriquecidos, pois aprendem mais sobre o autismo em sua totalidade e desenvolvem pesquisas com uma nova abordagem terapêutica. Até as empresas parceiras saem ganhando, pois cumprem com sua responsabilidade social”.
E, por falar em empresas parceiras, estas podem ajudar na aquisição de equipamentos (roupas, pranchas, parafinas), atuar como fotógrafos e filmadores, fazer impressões de materiais gráficos para distintas finalidades, disponibilizar estrutura de gazebo e mesas na praia, confeccionar camisetas, bonés e artigos para comercialização e arrecadação de recursos financeiros, organizar o evento, entre outros.
Como participar das aulas de surf?
Para participar das aulas de surf é preciso que o interessado seja autista (com diagnóstico), preencha a ficha de inscrição, questionário e autorização para uso de imagem e tenha sempre um responsável presente participando da aula.
Hoje, o Projeto Onda Azul acontece nos seguintes locais:
Florianópolis (Santa Catarina): na praia do Santinho, com a escolinha de Surf Costão do Santinho, os instrutores de surf Fabrício Caldas e Wilson Salerno Neves e equipamentos da própria escola. Acesse a fanpage oficial do projeto.
São Sebastião (São Paulo): conta com o apoio da Prefeitura Municipal através da Secretaria da Pessoa com Deficiência e do Idoso, do Instituto Gabriel Medina (IGM) e da Arte Sup, além da parceria de voluntários, sob a supervisão da psicopedagoga Sandra Lamb e coordenador de mar do educador físico Rafael Dias de Carvalho. Acesse a fanpage do projeto.
Imbituba (Santa Catarina): projeto acontece através da AMAI Imbituba, em parceria com a Escola de Surf Bananinha, sob a supervisão de Rita Hipólito, presidente da AMAI (Associação Amigos do autista de Imbituba). Acesse a fanpage do projeto.
Maceió (Alagoas): conta com a coordenação da APAE – CUIDA (Centro Unificado de Integração e Desenvolvimento do Autista), sob a coordenação da Maria Fabiana de Lima Santos Lisboa como coordenadora na areia e do Ricardo Francisco Da Costa Figo como coordenador de mar. Acesse a fanpage do projeto.
A periodicidade das aulas de surf varia em cada localidade. Em média, acontecem a cada 15 dias, aos sábados ou domingos, para que os responsáveis possam participar. Em todos os locais a realização conta com o apoio de voluntários. Não precisa ter conhecimento prévio, uma vez que todas as pessoas interessadas são capacitadas pelo projeto.
Para saber o calendário, é necessário acompanhar as fanpagens de cada localidade. Em dias muito frios, de mar perigoso ou de muita chuva, as aulas podem ser canceladas. Como não há roupa de neoprene disponíveis para os surfistas, em período de inverno as aulas são suspensas.
“O Projeto Onda Azul, com suas aulas de surf, pretende desmistificar a ideia de que o autista vive em um mundo à parte. Queremos oferecer às pessoas com TEA, familiares e profissionais uma experiência rica em acolhimento, diversão, troca de informações e aprendizagem”, diz Sandra Lamb.
“O Onda Azul é uma onda de amor se espalhando pelo Brasil. Ele só acontece, porque contamos com muitos apoios, parceiros e voluntários e com a credibilidade das famílias que fazem o sonho se tornar realidade”, finaliza Sandra.
Maristela Santos
03/02/2020 em 09:22Quero inscrever meu filho, onde preencho essa ficha de inscrição?
Tiago Toledo
12/06/2020 em 11:35Maristela, você já tentou contato com o projeto onda azul?
Ilza
24/01/2021 em 18:53Boa noite esse projeto existe em Recife e é gratuito? Preciso de informações
Tiago Toledo
26/01/2021 em 12:22Olá, o Esporte e Inclusão é um site fundado pelo Professor Tiago Toledo, ele atende em São Paulo e da supervisão para profissionais pelo país.