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04/04/2019

Medalhas e troféus no ciclismo marcam a vida de autista de 36 anos

Hoje, eu vou falar de ciclismo. Não do esporte em si, mas de um rapaz com autismo que traçou um caminho de sucesso em cima de uma bicicleta: Marcel Cereser, de 36 anos.

Eu adoro trazer aqui para o blog histórias inspiradoras. E quando conheci a trajetória do Marcel, fiquei realmente encantado em ver o resultado que o esporte pode trazer na vida de pessoas com autismo!

Quarto lugar no Ranking Nacional de Paraciclismo, Marcel pedalou pela primeira vez aos 16 anos. Mas foi aos 25 anos, na Rodovia Rio-Santos, em Ubatuba, que começou a encarar o esporte como algo mais profissional. De lá para cá foram mais de 50 medalhas e 10 troféus enfeitando o quarto.

“Marcel já competiu em Ubatuba, em várias corridas no Vale do Paraíba, Caraguatatuba, São Sebastião, em diferentes estados brasileiros e no exterior, na Itália e no Tour da França”, conta orgulhosa a mãe, Laura Cereser. “Meu filho também já foi homenageado pelas Câmaras de São José dos Campos e de Caraguatatuba, com menção honrosa”, completa.

O rapaz atualmente está em busca de uma bolsa como atleta e, no ano que vem, pensa em voltar para o exterior para novas competições.

Ciclismo e muito mais

Autista no ciclismo

Nascido em Jundiaí, no interior do estado de São Paulo, Marcel competia e lutava paralelamente para conseguir uma classificação funcional, por conta do diagnóstico de Sindrome de Asperger. Foram 10 anos de luta até que o Conselho Técnico do Rio de Janeiro concedeu a categoria C2. Hoje, Marcel Cereser é atleta da seleção brasileira de paraciclistas.

O rapaz e a família moravam em Ubatuba e se mudaram para Caraguatatuba, litoral norte de São Paulo. Não tendo paraciclismo na região, uma vez que as corridas aconteciam no Vale do Paraíba, Marcel passou a correr pelo Clube de Ciclismo de São José dos Campos, cidade do interior de São Paulo.

Os treinos acontecem de segunda a sexta-feira, das 10h às 11h. “Esporte é minha vida. Incentivo todo mundo a treinar”, diz Marcel Cereser, que carrega consigo uma frase marcante, criada por Wilma Thaumaturgo, uma amiga de sua mãe: “Vencer não é ganhar, é superar limites”.

Mas não pense que o ciclismo é a única atividade de Marcel Cereser. Ele possui uma vida bem agitada!

Somente no mundo dos esportes, Marcel Cereser é campeão de natação, faixa amarela em karatê e batizado na capoeira.

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Marcel Cereser

Além disso, já tocou bateria, fez curso de modelo e atualmente é cerimoniário nas missas da Paróquia de Santo Antônio.

Tem mais: Marcel é ator há 10 anos da encenação da Paixão de Cristo, que é apresentada na Sexta Feira da Paixão, em Caraguatatuba. “Ele é o único autista que trabalha no espetáculo”, conta Laura.

Pensa que acabou? Não! Durante as tardes, Marcel trabalha na Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência e do Idoso (SEPEDI) de Caraguatatuba. “Os idosos amam o Marcel, todos os dias ele chega em casa com presentes”, revela a mãe.

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Ou seja: de manhã Marcel treina ciclismo, à tarde trabalha, à noite é cerimoniário na missa e, durante a Quaresma, encaixa na rotina os ensaios da Paixão de Cristo. “Ele ainda gosta de roçar mato no sítio quando pode. Está vendo? Este é o Marcel!”, resume a mãe.

 

Diagnóstico difícil

Laura Careser

Laura conta que Marcel possui uma mente brilhante, entende tudo de motores – porque aprendeu com o pai –, tem o blog, mexe na sua página no Facebook e no WhatsApp, mas possui dificuldades no relacionamento familiar e na interação social, por conta das caraterísticas do transtorno do espectro autista.

“Meu filho tem problemas de dicção – até hoje não pronuncia o ‘R’ – e precisa de auxílio para formar frases. Quando criança, inclinava o corpo para trás e demorou para andar e sentar. Na escola, mesmo com dificuldades, concluiu o primeiro grau”, conta.

A mãe do ciclista conta que, na época em que Marcel era criança, o diagnóstico de autismo era muito difícil. Apesar de ter passado pelos melhores médicos e hospitais de São Paulo, era considerado hiperativo e tomou remédios errados. Até que, aos 21 anos, teve o diagnóstico fechado de autismo pelo neurologista Edson Amâncio.

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“Marcel faz terapia desde os dois anos. É uma luta constante, porque a gente não sabe muito bem onde buscar informação. É possível encontrar opções para crianças com autismo, mas para os mais velhos é muito mais complicado. Nós, pais, que somos idosos e temos filhos autistas adultos, precisamos de ajuda. Mas não podemos desanimar”, desabafa Laura.

Assim como foi com Marcel, eu, como professor de educação física, vivencio na prática os benefícios da atividade física na vida de crianças e jovens com autismo.

Se você tem alguma experiência bacana com o esporte, compartilha com a gente aqui nos comentários.

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