Qual a importância da figura paterna no desenvolvimento das crianças com TEA?
Muito se discute sobre a influência da figura paterna na vida de uma criança. Mesmo que não more na mesma casa, é importante que os pais se sintam responsáveis pelos filhos e auxilie de alguma forma no processo de desenvolvimento deles.
E como aqui falamos sobre autismo, como é – ou deveria ser – a participação da figura paterna no dia a dia de uma criança com TEA?
Para falar sobre o assunto, eu tive o prazer de conversar com Fábio Coelho, idealizador da Academia do Autismo. Ele é psicólogo clínico e escolar e pai de dois meninos diagnosticados com autismo.
Fábio usa todo o seu conhecimento técnico para nos contar um pouco sobre este assunto que certamente faz parte do dia a dia se muitas famílias.
A presença da figura paterna
Um pai presente beneficia o desenvolvimento de qualquer criança, sendo ela neurotípica ou não. Fábio Coelho lembra que estudos mostram que a própria experiência paterna e a forma de lidar com a criança estimula as áreas emocionais, a autoestima, a confiança e as habilidades de enfrentamento.
Outro ponto importantíssimo da figura paterna diz respeito ao bem-estar familiar. “Quando falamos de crianças com desenvolvimento atípico, sabemos que o estresse é muito alto, por questões sociais e socioeconômicas. E quando podemos contar com o apoio de outra pessoa para dividir as preocupações, escolas, terapias, temos aí um fator de proteção contra o estresse.”
Questões culturais influenciam o papel da figura paterna na vida da criança
Fábio pondera que são necessários amplos estudos de grupos para afirmar que as mulheres sabem lidar melhor com um diagnóstico de autismo do que os homens. Ao mesmo tempo, esse comportamento tem embasamento cultural.
“Vivemos numa sociedade que impõe ao homem evitar os sentimentos, não chorar e a enfrentar o mundo
como se fosse invencível. Mas sabemos que estes sentimentos não podem ser evitados. Por isso, alguns homens acabam fugindo ou se esquivando, justamente por não saberem lidar com tudo isso, não aceitarem o diagnóstico do filho.”
Fábio lembra que as mulheres, por outro lado, demonstram mais os sentimentos em um primeiro momento. E como conseguem elaborar melhor estes sentimentos e participar de grupos para entender e discutir o tema, elas atravessam o luto e vão para a fase da aceitação de uma forma mais rápida.
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Lidar com a mudança de expectativas é desafiador para o homem
O psicólogo Fábio Coelho reforça que, por não saber lidar com uma vida que trouxe características e condições que não estavam dentro das expectativas, o homem busca a alternativa mais fácil que é adotar a postura de evitação.
“Infelizmente, vivemos numa cultura que ‘aceita melhor’ este abandono paterno. Porém, essa postura é uma armadilha, pois o homem tende a apresentar dificuldades de lidar com essas escolhas lá no futuro e precisam de terapia para entender as escolhas que fizeram no passado.”
Fábio lembra que o impacto emocional do diagnóstico acaba refletindo no casal, uma vez que a criança vira o centro das atenções dos pais, reduzindo o tempo de vida a dois e individual. E o homem, que já apresenta certa dificuldade para lidar com os sentimentos, estende essa limitação para seu papel enquanto figura paterna. “Como não há o que chamamos de ‘punição social’, o homem se esquiva da situação, simplesmente por não saber administrar suas emoções.”
O autismo não deve gerar culpa
Fábio lembra que a causa do autismo é, em grande parte, genético ou hereditário, o que não deveria causar estranheza ou culpa por parte dos pais. É muito difícil em testes entender perfeitamente de onde veio. Muitas vezes na família teve alguns casos ou os pais apresentam algumas características ou traços.
“Quando isso não é bem explicado para os pais, pode gerar um certa culpa, o que não é o correto. O foco dos pais deve ser o desenvolvimento do filho, o que deve ser feito para que tenha ele uma vida melhor, e não buscar explicações que não são pautadas pelas nossas escolhas”, orienta.
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Os pais precisam de suporte emocional
O psicólogo indica que os pais procurem o apoio de outros pais e grupos, principalmente aqueles que estão começando esta jornada. Essas ações ajudam a tirar o medo do desconhecido, explicar os potenciais e possibilidades dessa nova vida e elucidar alguns conceitos, sendo um deles o da felicidade.
“Muitos pais não acreditam que é possível ser feliz tendo um filho com desenvolvimento atípico. Esta é uma visão muito pessimista, porque uma das coisas que faz um pai se sentir feliz e bem é ver o desenvolvimento do seu filho. E isso é possível quando a figura paterna participa ativamente desse processo.”
A terapia é outro caminho indicado por Fábio Coelho. “Eu mesmo faço terapia desde a faculdade. É uma forma de promover autoconhecimento e bem-estar. Inclusive os terapeutas devem inserir os pais das crianças nos tratamentos, porque muitas vezes eles ignoram esse envolvimento. O pai é quem está vivenciando as questões emocionais e, por isso precisar acompanhar mais de perto os tratamentos do filho. Só com essa abertura, já se consegue uma participação mais efetiva da figura paterna.”
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O grau de autismo da criança influencia na relação com a figura paterna
Fábio explica que as crianças com autismo leve têm a condição cognitiva preservada, um nível inteligência típico ou acima da média e não tem deficiência intelectual. Elas observam tudo e desenvolvem valores e crenças.
“As crianças precisam ver os pais como super-heróis, confiáveis e se sentirem amadas de forma incondicional. E quando elas não entendem dessa forma, são geradas sequelas emocionais, muitas vezes permanentes, que vão demandar um trabalho psicológico. E os pais nem sempre percebem que são esses os pensamentos que as crianças estão formando.”
O psicólogo explica que as crianças formam pensamentos a partir do que elas observam e não do que o pai ou mãe está tentando fazer. “O pai, por exemplo, pode se focar no trabalho para fugir do ambiente que para ele pode ser aversivo. Essa pode ser, sim, uma forma de pagar escola, plano de saúde e as terapias e dar o melhor para o filho, mas a criança vê de outro jeito. Ela sente falta do carinho, da atenção, da presença da figura paterna, e vai desenvolver pensamentos de abandono, de que o pai não gosta dela.”
E completa: “Uma criança que cresce com esse pensamento tem sua saúde emocional, autoestima, habilidades sociais e relações interpessoais prejudicadas. É preciso haver um equilíbrio entre autoridade, compreensão, empatia, carinho, limites e regras para evitar impactos negativos no desenvolvimento da criança. Quanto maior a compreensão da criança, maior é a influência nas emoções e no cognitivo.”
É preciso buscar conhecimento
Eu, que tenho o blog aqui no Esporte e Inclusão, percebo o quanto as informações sobre o autismo estão cada vez mais acessíveis e aprofundadas, e nosso entrevistado, Fábio Coelho, também faz este trabalho de maneira magistral.
“A gente entende o poder que o conhecimento e a informação de qualidade exercem para gerar mudanças. Foi assim comigo, tanto na vida pessoal quanto profissional. O conhecimento está aí para todo mundo, mas é preciso saber filtrar as informações pautadas na ciência e em evidências.”
E finaliza: “A informação para pais de autistas e para a sociedade como um todo ajuda a quebrar alguns estigmas, o medo do novo e até consegue mudar a forma como alguns pais enxergam o autismo e o próprio filho. Esse caminho promove bem-estar e uma aceitação melhor para os pais. Ter um filho com autismo não é uma vida de sacrifícios, mas de desafios e potenciais como qualquer outra.”
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13/08/2023 em 23:31Aqui é Regina Sena, como vc está prof. Thiago Toledo? Amei esta postagem e até partilhei no insta da AMA- Associação de Amigos e Pais de autistas, aqui do Pará, que atualmente estou participando aqui no Brasil.
Um grande Abraço!!
Tiago Toledo
19/09/2023 em 09:29😍😍😍