Integração sensorial: como trabalhar este processo com crianças autistas?
As crianças com características de autismo costumam apresentar dificuldades com o que chamamos de integração sensorial. Mas o que isso quer dizer?
A integração sensorial é o processo que leva o cérebro a interpretar o mundo a partir dos sentidos (tato, paladar, visão, audição e olfato), da propriocepção, que é a consciência dos movimentos e do posicionamento do corpo, e do sistema vestibular, que é o conjunto de órgãos do ouvido interno responsável pela identificação dos movimentos da cabeça em relação à gravidade, da manutenção e do equilíbrio.
Tanto autistas quanto pessoas neurotípicas podem apresentar algum tipo de dificuldade de processamento sensorial e, de uma maneira geral, essa característica pode comprometer de diferentes formas a interação social e a realização de atividades do dia a dia.
Todos os autistas apresentam dificuldades de integração sensorial?
É errado dizer que todas as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) naturalmente apresentam algum tipo de disfunção sensorial. Conforme explica Mariana Tonetto, terapeuta ocupacional, é muito comum encontrar dificuldades de processamento sensorial nessas crianças, mas não é obrigatório.
“O diagnóstico de autismo, por si só, já afeta as relações sociais da criança. E quanto maior a dificuldade na integração das sensações, maiores serão os desafios no uso das habilidades motoras, na hora de brincar e de regular suas emoções”, explica.
Mariana conta que pessoas com autismo podem ter hiper, hiporresposta ou ambas em diversos sistemas. E dependendo de como se dá o processamento dos sistemas sensoriais, pode haver influencia na práxis (planejamento, organização e execução de uma sequência de ações motoras).
“Dessa forma, pode-se dizer que quanto maiores as dificuldades de processamento dos sistemas, maiores serão as interferências nas respostas da criança ao ambiente. E isso pode ter relação direta com a independência na vida diária.”
Crianças com hiper resposta à algum sistema sensorial podem, por exemplo, apresentar as seguintes características:
- Incômodo exacerbado ao toque de outras pessoas
- Nojo de substâncias “melequentas” (cola, tinta, areia etc.)
- Inquietação ao cortar cabelo e unhas
- Dificuldades com texturas de alimentos, chegando a ter ânsia e/ou vômito
- Incômodo exacerbado com barulhos comuns do dia a dia (liquidificador, aspirador de pó, secador)
- Susto com barulhos mais altos, podendo chorar, tapar os ouvidos ou fugir
- Cansaço extremo e irritabilidade no pós-contato com telas eletrônicas
- Desconforto com luzes, sol e claridade
- Enjoos e vômitos com movimentos de várias ordens
- Medo de tirar o pé do chão
- Insegurança em parquinho e espaços com possibilidades de movimento no geral
“Já as crianças hipossensíveis à integração sensorial precisam de muita intensidade dos estímulos sensoriais para que o cérebro os perceba e os processe”, explica Mariana. Sendo assim, as pessoas com hipossensibilidade podem, por exemplo, apresentar as seguintes características:
- Esbarrões em quinas de mesa e cadeira ou trombadas em outras pessoas com certa frequência
- Presença de arranhões ou batidas em locais do corpo que a pessoa não imagina onde aconteceu. Isso porque a informação da batida do corpo não foi suficiente para registrar no cérebro, logo, não foi percebida
- Movimentos exacerbados e intensos para aumentar a percepção do movimento
- Passividade, quietude, distração e má postura
- Busca por intensidade, de forma que os músculos e articulações se mexam bastante e mandem para o cérebro muitas informações de onde estão as partes do corpo. Essas crianças arrastam, puxam, pulam e escalam constantemente
“Estes são apenas exemplos para situações de hipersensibilidade e hipossensibilidade. A dificuldade de integração social deve ser avaliada caso a caso por um Terapeuta Ocupacional certificado na Terapia de Integração Sensorial”, orienta Mariana.
É possível reduzir as dificuldades de integração sensorial?
Após o diagnóstico de autismo, o Terapeuta Ocupacional devidamente certificado faz a avaliação e determina a melhor forma de tratamento, que pode ser iniciado com a criança ainda bebê.
Mariana reforça que o trabalho com a criança deve acontecer em uma sala de integração sensorial por um profissional Certificado em Terapia de Integração Sensorial ou por um profissional em processo de certificação, com supervisão de outro já certificado.
A sala deve ter variedade de equipamentos capazes de oferecer todos os inputs sensoriais, especialmente tato, propriocepção e movimento.
“É uma intervenção dinâmica e lúdica. Em todas as terapias é importante que a criança tenha motivação intrínseca pela sala e que o terapeuta utilize essa busca ativa para colocar desafios na medida certa, para fomentar a motivação, a diversão e o aprendizado”, explica a terapeuta.
Outro ponto importante que Mariana esclarece: os pais nunca devem confundir dificuldade de integração sensorial com estereotipias. Isso porque muitos pais acham que a intervenção do terapeuta ocupacional acaba com elas, mas não é bem assim. “Pode ser que, ao trabalhar determinado sistema, a estereotipia diminua por consequência. Mas isso também pode não acontecer.”
E os pais podem contribuir em casa? Mariana deixa algumas dicas:
- Proponha brincadeiras que podem ser realizadas em qualquer lugar e que tenham relação com as necessidades sensoriais daquela criança. Peça orientações para o terapeuta ocupacional.
- Cumpra uma dieta sensorial prescrita pelo terapeuta ocupacional certificado para ajudar a pessoa na sua autorregulação e na rotina diária familiar.
- Faça passeios semanais em parques e procure inserir a criança em esportes que tenham entradas sensoriais importantes. Um professor de Educação Física pode ajudar nesse processo.
Entenderam a importância de cuidar das necessidades sensoriais de uma criança com autismo? Procure sempre apoio multidisciplinar para oferecer a melhor assistência para o seu filho.
Espero que você tenha gostado deste artigo sobre integração sensorial e das orientações da terapeuta ocupacional, Mariana Tonetto.
Caso haja algum assunto relacionado ao autismo que você tenha dúvidas, use o espaço dos comentários para deixar sua sugestão. E fique à vontade para compartilhar nossos materiais nas redes sociais!
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Felipe
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