Como é crescer com autismo?
Como é crescer com autismo? Pedi ao Nicolas Brito Sales, de 19 anos, palestrante, fotógrafo e escritor que dividisse com a gente um pouco da vivência, dificuldades e alegrias da vida com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
Mesmo com as dificuldades que boa parte das crianças com autismo enfrenta, como problemas de fala e comunicação, Nicolas passou a conversar normalmente aos 11 anos de idade.
Com o apoio incrível de seus pais, Anita Brito e Alexander Sales, hoje realiza diferentes atividades com autonomia e, em 2011, começou a dar palestras para compartilhar sua história. Também já escreveu um livro e ama fotografar, habilidade que deseja levar para o resto da vida.
Junto da mãe, Anita Brito, participa do Projeto Fada do Dente, que utiliza células-tronco de dentes de leite de crianças com autismo para entender melhor os aspectos biológicos do transtorno. Inclusive, quem quiser se cadastrar no projeto pode se informar através deste formulário aqui.
Ah, vale lembrar que Anita Brito é irmã de Arnaldo Carvalho Brito, autor do livro “O direito de ser estranho”. Nele, o rapaz, que foi diagnosticado com autismo na idade adulta, conta como é apresentar os sintomas do TEA em meio a uma sociedade que conhece pouco sobre o assunto.
Infelizmente, por conta das nossas agendas, não consegui bater um papo com o Nicolas pessoalmente. Mas ele foi muito atencioso e me concedeu uma entrevista pelo celular, para falar um pouco mais de como é crescer com autismo.
Fiz questão de transcrever o áudio do jeitinho que ele falou, para que vocês pudessem compreender o quanto este garoto é incrível. E mais, vou deixar o áudio aqui embaixo, caso você queira ouvir a entrevista também!
Confira a entrevista:
Tiago Toledo: Em que momento você se percebeu como um indivíduo autista? Como foi esse processo de entendimento, de lidar com esse diagnóstico?
Nicolas Brito Sales: Então, minha mãe me falava que eu era um ser humano especial e diferente. Logo depois com o tempo ela me explicou com mais detalhes e depois eu fui aceitando com o passar do tempo. E hoje em dia eu me aceito autista.
Tiago: Na escola, em relação ao processo de aprendizagem, quais os principais desafios que você enfrentou?
Nicolas: Os principais desafios que eu enfrentei foi(sic) eu ter que entender as lições na escolar, pois eu tenho Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e eu tinha muita dificuldade de prestar atenção nas aulas.
Como você foi superando a dificuldade de interação social? De que forma a escola e os demais grupos sociais lhe ajudaram nesse processo?
Nicolas: No começo eu me rejeitava – eu não era rejeitado pelos meus colegas, eu que me rejeitava dos meus colegas – pois eu não gostava de me sociabilizar. Mas a partir do Ensino Médio eu fui me soltando um pouco mais e meus colegas me ajudavam a me socializar mais e a fazer trabalhos em grupo.
Tiago: Você foi o orador da sua classe, certo? Qual foi a sensação? Qual foi a inspiração para escrever o discurso?
Nicolas: Foi uma noite muito emocionante e muito divertida. A minha inspiração para escrever o discurso foi que eu tive muitas vitórias com o passar do tempo. Foi muito emocionante eu ter escrito o discurso e depois ter falado para o público. E eu também fui aplaudido de pé!
Confira no vídeo abaixo este momento tão especial para o Nicolas:
https://www.youtube.com/watch?v=mrgUSz1aPLQ
Tiago: Qual foi o momento que você sentiu necessidade de palestrar, de contar sua história para as pessoas?
Nicolas: Minha mãe estava fazendo uma palestra para ela falar em público. Depois, ela me disse que estava fazendo uma palestra falando sobre autismo e falando sobre mim. E eu falei para ela que eu também queria fazer uma palestra falando um pouco sobre a minha vida. Ela acabou aceitando e hoje em dia eu faço palestras pelo Brasil inteiro.
Tiago: E o seu livro? Como surgiu a ideia de escrevê-lo?
Nicolas: O livro na verdade foi mais uma ideia para escrever sobre a minha cabeça, o que se passa nela. E porque a minha mãe tinha escrito um livro sobre a minha vida, mas muitas pessoas se perguntavam o que se passava na minha cabeça e eu acabei escrevendo esse livro.
Tiago: Você conta em suas palestras sobre sua paixão pela fotografia e que já expôs em vários lugares do Brasil e até na Flórida. Quando surgiu o seu interesse pela fotografia?
Nicolas: Então, a paixão pela fotografia na verdade foi a minha mãe que me incentivou a fotografar. E depois eu peguei tanto interesse pelo assunto que hoje em dia eu gosto muito de fotografar. E hoje em dia, segundo ela (minha mãe) eu fotografo melhor do que ela.
Você pode conferir outras fotos no Nicolas no Instagram.
Tiago: Quais outros hobbies você possui?
Nicolas: Além de palestrante, eu sou escritor e também sou fotógrafo. E nas minhas horas vagas eu gosto mais de ficar em casa – porque eu sou bem caseiro – e eu gosto bastante de ficar no meu quarto jogando fliperama e mexendo no meu computador. Eu tenho uma máquina de fliperama.
Tiago: Junto com a adolescência aflora a sexualidade. Como você lida com essa fase? Como é a sua relação com as meninas? Já namorou? Como foi a experiência?
Nicolas: Hoje em dia eu tenho pretendentes (rs), ou seja, paqueras, né? E sim, eu já tive experiência com namoro. Foi uma experiência interessante, mas também foi uma experiência que fui eu que quis acabar, porque já tinha “dado”para mim, eu não tive mais paciência, digamos assim.
Tiago: Quando você viaja para dar palestras, o que costuma explorar? O que exatamente chama a sua atenção em lugares que você não conhece?
Nicolas: A única coisa que me chama a atenção dos lugares que eu não conheço, além do ambiente, né, são as comidas típicas, que eu acho muito interessante. Eu acho muito interessante as comidas típicas.
Tiago: Você já sofreu algum tipo de preconceito? Como aprendeu a lidar com essa situação? O que você tem a dizer para essas pessoas?
Nicolas: Olha, eu nunca sofri nenhum preconceito, mas eu sei que tem autistas, principalmente severos, que sofrem esse tipo de preconceito, que, na minha opinião, deveria acabar.
Tiago: Quais os principais desafios de crescer com autismo?
Nicolas: Os meus principais desafios de crescer com autismo, fora eu gostar de ser autista, né, são o meu jeito de falar, que eu particularmente não gosto, e as minhas estereotipias, que na minha opinião eu preciso diminui-las.
Tiago: O que você planeja para o seu futuro, tanto na vida pessoal quanto na profissional?
Nicolas: O que eu planejo no meu futuro é me casar e ter uma família e também ser um trabalhador independente, seja na fotografia ou na palestra. Ou também sendo escritor.
Tiago: Você teve e ainda tem todo o apoio dos seus pais para compreender o mundo ao seu redor. Que mensagem você deixaria para os pais de crianças e jovens que crescem com autismo?
Nicolas: Eu tenho o apoio dos meus pais até hoje e a mensagem que eu deixo para os pais é: “Tudo só é 100% possível se você tentar 100%”. Esta é uma frase que a minha mãe fez.
Para adquirir os livros citados na matéria ou convidar o Nicolas Brito Sales para palestras, basta entrar em contato com Alexsander Sales pelo telefone (11) 99203-4152.
E se você gostou da entrevista ou quer saber mais sobre como crescer com autismo, escreva para gente, deixe seu comentário! Até o próximo artigo!
Créditos das imagens: Facebook e Instagram
Rejane marly Félix dos Santos
20/12/2018 em 15:31Muito esclarecedor. Tenho um filho de 11 anos com autismo e não sei o q fazer com relação ao grude q é comigo, não se desgruda, gosta de passear, mais tenho q ir junto, mesmos indo os primos e tios q ele ama. Minhas irmãs vão p o litoral e ele não quer ir só pq não vou, isso as vezes q sufoca, se ele tiver dormindo até bem cedo e eu sair de casa por algum momento, ele acorda na hora. Tem alguma fica de como eu lidar com isso?
Liliane Aparecida de Mello Guimarães
27/12/2018 em 07:00Lindo parabéns Nicolas pela sua superação e aos pais sem palavras pois parabéns é muito pouco a dizer pois se o Nicolas se transformou nessa pessoa maravilhosa foi pelo apoio deles. Gostaria de saber o seguinte meu filho foi diagnosticado este ano com TEA de grau leve tem uma questão que me deixa com uma interrogação ele até aos 12 anos ele gostava de praia de piscina e hoje ja não gosta usava camuseta regata bermuda hoje ja não gosta de usar para ele se sentir bem tem que ser calça de moletom e camiseta para dormi usava pijama curto agora só cumprido questão isso faz parte da pessoa com TEA. Obrigada
Leiliane
29/12/2018 em 13:03Excelente como é importante o apoio da família! Meu filho tem 11 anos e é autista de grau leve como chamam TEA